Desafios do setor de microcrédito para 2024
Segundo a Associação Brasileira de Microcrédito há espaço para quintuplicar a oferta no Brasil até 2029, mas precisamos superar vários obstáculos
Por Carlos Eduardo Navarro*
No final de janeiro o Banco Central seguiu sua trajetória de redução da taxa de juros cortando a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. O movimento é positivo, mas ainda há muito a ser feito quando o assunto é microcrédito no Brasil.
Afinal, apesar desse corte, ainda estamos falando de juros que ficam na casa dos dois dígitos. E é preciso levar em conta também a inflação, que em 2023 ficou acima de 4,6%. Esses números representam um panorama de dificuldade para o microempreendedor e para as pequenas empresas que precisam de crédito.
Recentemente a presidente da Associação Brasileira de Entidades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (Abcred), Isabel Baggio, declarou em reunião com ministros em Brasília que há espaço para quintuplicar a oferta no Brasil até 2029. E sem dúvida há muito o que crescer nessa área. Segundo levantamento do Sebrae, apenas 40% das micro e pequenas empresas que procuram um empréstimo no Brasil têm sucesso nessa tentativa.
O crédito é uma ferramenta vital que, quando chega às mãos de quem precisa, pode gerar mudanças significativas na vida de uma pessoa. Pode ser aquele empurrãozinho que faltava para o pequeno negócio que vai gerar renda para a família, pode ser aquele fôlego para superar um momento delicado de queda nas vendas de um microempreendedor, servir para concluir a construção da casa tão sonhada.
E esse tipo de empréstimo tem um papel relevante na economia como um todo, dando impulso aos pequenos negócios e fazendo a roda da economia girar mais forte. Afinal, as pequenas e médias empresas geram cerca de 70% dos empregos no Brasil. Não faltam, então, argumentos para comprovar a importância do crédito para os pequenos negócios no Brasil.
E por que ele muitas vezes não chega a quem precisa? Em geral, um crédito é negado porque há falta de confiança de que quem pega esse dinheiro seja capaz de devolvê-lo, o que impacta também na taxa de juros que é cobrada pelo mercado, inclusive no valor cobrado no cartão de crédito. Mesmo com a Selic em trajetória descendente, os preços, principalmente os dos combustíveis, que impactam toda a economia, ainda estão muito altos.
Também são necessárias mais iniciativas de educação financeira (tanto por parte do governo como por parte das empresas de crédito) para conscientizar o tomador de empréstimo a não engrossar as estatísticas da inadimplência, que foram 3,58% maiores em 2023, segundo dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Além disso, muita gente não tem conhecimento das várias opções de crédito disponíveis no mercado. Crédito consciente é algo que merece espaço inclusive na escola!
Do lado das empresas de crédito é preciso investir em novas tecnologias e produtividade, o que gera maior competitividade. Com operações mais eficientes é possível atingir um maior número de clientes e oferecer valores mais competitivos. O crédito é um instrumento essencial para quem mais gera empregos e, para o sucesso da nossa economia, não pode ficar restrito às mãos de poucos.
*Carlos Eduardo Navarro Ribeiro é CEO da Crefaz, empresa fundada em 2013 com o objetivo de oferecer crédito a um público não assistido pelas instituições financeiras tradicionais.